ESTRATÉGIA E GESTÃO

Agressão no Oscar: gestão pode evitar os "tapas na cara" velados nas empresas

Flávio Augusto Picchi
Agressão no Oscar: gestão pode evitar os "tapas na cara" velados nas empresas
O sistema lean desenvolveu um antídoto contra esse fenômeno. Trata-se de mudar o foco das discussões, sejam quais forem, que não devem mais se direcionar às pessoas, mas, sim, aos processos

A reação emocional do ator Will Smith no Oscar virou assunto mundial, dividiu opiniões, entrou para a história e ainda deve gerar desdobramentos.

Um deles é uma reflexão importante que podemos fazer sobre o cotidiano das empresas. Não se engane: no mundo corporativo, há também tapas na cara – na maioria das vezes, os "tapas verbais". Você já deve ter presenciado ou mesmo sentido.

São aquelas discussões que ocorrem no dia a dia, quando percebemos pessoas se desrespeitando ou mesmo se agredindo verbalmente, de forma mais ou menos sutil.

São "tapas na cara verbais" pelos mais diversos motivos, desde disputas sobre quem tem razão até as "puxadas de tapete", equipes competindo de maneira agressiva e gerentes disputando uma promoção… Ou mesmo assédios morais entre chefes e subordinados.

Na maioria das vezes, não são situações tão explícitas quanto a que ocorreu no Oscar. No entanto, também afetam negativamente o cotidiano de trabalho. Azedam o clima organizacional. Abalam emocionalmente as pessoas. Interferem no bom andamento dos processos. E prejudicam os negócios das empresas.

A boa notícia é que a gestão pode mudar essa cultura. O sistema lean desenvolveu um antídoto contra esse fenômeno. Trata-se de mudar o foco das discussões, sejam quais forem, que não devem mais se direcionar às pessoas, mas, sim, aos processos.

Na gestão lean, são os processos que devem ser investigados, criticados e transformados. Se os resultados não vão bem, o foco do sistema lean é sempre nos processos que estão gerando esses resultados, e não nas pessoas. Muito provavelmente é o processo que está mal desenhado.

Assim, é preciso investigar esse processo de forma crítica, encontrar os "fatos e dados" concretos que mostrem claramente como estão ocorrendo os gargalos, os desvios, as deficiências… E, aí sim, buscar, de maneira científica, as contramedidas, que são as formas de tentar redesenhar os processos, implementar e testar. O "indivíduo" sai do foco.

Quando o modelo de gestão consegue, na prática, implementar esse tipo de mentalidade, as discussões entre as pessoas se transformam. Não é mais algo "pessoal", que é geralmente o combustível dos "tapas na cara" organizacionais.

Com isso, aumenta a cooperação. As animosidades diminuem. O egocentrismo dá lugar ao espírito de equipe. Há uma maior racionalidade nas conversas, pois já não falamos mais dessa ou daquela pessoa, mas dos processos. Isso muda tudo.

As pessoas andam com os nervos à flor da pele e, mesmo com esses cuidados, algumas animosidades podem ocorrer - porém, como exceção, e não como regra.

Nada justifica, no mundo corporativo ou fora dele, "piadas" que exponham as pessoas, como a feita por Chris Rock - que, na verdade, são ofensas graves. Nem a violência, como a cometida por  Will Smith.

Cabe à gestão criar um ambiente de cooperação racional, que evite agressões intempestivas. Afinal, o comportamento das pessoas é bastante influenciado pelo clima organizacional.

Publicado em 07/04/2022

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil