Na Vilkun, temos trabalhado em um produto inovador nos últimos 15 anos. Nossa missão é
selecionar as melhores frutas chilenas e transformá-las em frutas desidratadas, liofilizadas e congeladas que
possam ser usadas como ingredientes. Não há muitas referências para esse tipo de produto, tanto
em termos de receita quanto em processo de fabricação: na verdade, quando entrei na empresa, tive
dificuldade para entender sua aplicação.
Do ponto de vista de equipamentos, nossa planta de 140 pessoas no sul do Chile é bastante avançada, mas
isso não nos impediu de enfrentar uma série de problemas em nosso processo antes da chegada do
pensamento lean à nossa organização em 2020. Nossos principais problemas eram os altos custos
operacionais e a falta de padronização entre os diferentes turnos, o que afetava a nossa
competitividade.
O Mapa do Fluxo de Valor que desenhamos – o primeiro passo real em nossa jornada lean – revelou que os
turnos não funcionavam da mesma maneira: havia “instrutivos” em vigor (procedimentos operacionais
padrão, por assim dizer), mas as pessoas não os seguiam na prática. O MFV também nos
mostrou que tínhamos muito trabalho em andamento na área de secagem e que muitas das caixas que
chegavam à área de embalagem eram rejeitadas por problemas de qualidade. Tínhamos que fazer
alguma coisa, e o lean apareceu como uma grande oportunidade de trazer organização para o nosso
trabalho.
Assim, desenvolvemos vários experimentos e projetos-piloto. No início, adicionamos todos os problemas
que encontramos à lista de “a resolver”, mas em pouco tempo percebemos que não
poderíamos lidar com tudo de uma vez. Decidimos priorizar aqueles problemas que, se resolvidos, nos dariam
mais valor. Nesse ponto, criamos equipes de trabalho, cada uma das quais identificaria e aplicaria uma contramedida
ao problema em que estava focando. Foi assim que realmente começamos a fazer mudanças.
As equipes de trabalho começaram a trabalhar em três áreas-chave nas quais estávamos
enfrentando problemas críticos para os negócios. Em particular, focaram em:
- A padronização da receita para garantir o melhor rendimento possível de
matéria-prima e maior estabilidade no produto (que deve manter suas características nutricionais e
de textura até chegar à mesa de jantar do cliente). Fizemos vários experimentos com
diferentes parâmetros e alteramos o processo até chegarmos a uma receita que nos agradava
(também conseguimos reduzir nosso consumo de matéria-prima em 15%).
- A criação de um supermercado para garantir a disponibilidade da calda e evitar atrasos no
processo. Analisamos o consumo, definimos o estoque crítico que precisamos ter sempre disponível e
construímos um sistema de reabastecimento baseado na puxada.
- Na área de embalagens, tentamos resolver os problemas de retrabalho que encontramos aumentando o
número de “prontos para exportar na primeira tentativa” em aproximadamente 40%. Ao tentarmos
fazer isso, percebemos que o retrabalho necessário para corrigir as caixas defeituosas era resultado
claro da variação entre os turnos. Usamos um Pareto para analisar os principais motivos das caixas
defeituosas e para tentar adequar o produto para expedição antes de embalá-lo, evitando,
assim, o retrabalho. Ajudar as pessoas a entender o desperdício que se escondia nessas caixas rejeitadas
foi um divisor de águas na jornada lean da Vilkun.
Um obstáculo no caminho
Ficamos satisfeitos com a nossa receita. Ela foi o resultado de vários experimentos e ciclos PDCA (e de muito
trabalho). Por fim, conseguimos identificar a receita e padronizá-la em nossos turnos. Melhoramos o
rendimento e estávamos bastante confiantes com o que havíamos alcançado, apesar das
dificuldades inerentes ao trabalho com um produto natural tão inovador como esse – que é
notoriamente difícil de manusear em um ambiente fabril.
Quando secávamos o produto, ele normalmente estava dentro dos parâmetros, mas quando ele era
inspecionado em nosso armazém, éramos informados de que ele não era fluido o suficiente para
embalar. Tivemos que reduzir a quantidade de água nele. Esse foi um duro golpe para a equipe.
Pensávamos que estávamos indo tão bem! Além disso, com a nova restrição,
simplesmente não conseguíamos lançar o produto. Nossa fábrica funciona 24 horas por dia,
7 dias por semana, e toda vez que mexíamos na receita, tínhamos que interromper o processo de
produção. Os pedidos começaram a se acumular, e o departamento de vendas começou a nos
pressionar.
Ficou claro que não podíamos mais procrastinar. Tivemos que voltar à estaca zero, não
importando o quão frustrante fosse isso. Marcelo Pinto, do Lean Institute Chile, estava no local naquele dia,
treinando uma de nossas equipes. Ele nos ajudou a organizar nossos pensamentos, e nos próximos dias,
conseguimos redesenhar o processo de secagem. Eventualmente, o trabalho duro valeu a pena, e conseguimos melhorar a
eficiência na secagem. Era tudo uma questão de persistência! Recebemos grande apoio durante a
jornada e percebemos que compartilhar o ônus de descobrir as diferentes etapas do processo provou ser a
abordagem correta. Foi aí que aprendemos uma lição importante: podemos resolver qualquer
problema se trabalharmos juntos e o abordarmos cientificamente.
Outra coisa que realmente me impressiona em nossa jornada até hoje é que conseguimos alcançar
muito em um curto espaço de tempo e sem investimento. Experimentos simples podem ter um impacto enorme, e
para nosso pessoal, é tranquilizador saber que podemos tentar algo novo e, se as coisas não derem
certo, apenas voltar atrás sem desperdiçar dinheiro.

Lean: uma revelação na transformação lean da Vilkun
Com o pensamento lean, descobrimos uma nova forma de trabalhar, na qual colaboramos na solução
de problemas, dando a todos uma responsabilidade clara e acompanhando o que discutimos.
O gerenciamento
diário foi absolutamente fundamental para nós, para garantir que pudéssemos sustentar
os resultados alcançados e continuar usando as ferramentas de forma eficaz. Agora, nós o adotamos como
nossa forma de trabalhar, com o departamento de embalagem particularmente ansioso para interiorizá-lo.
As pessoas se animaram com o lean rapidamente, embora houvesse alguns mal-entendidos no início, e as
mudanças começassem a competir umas com as outras. Eles pensavam que queríamos que eles
simplesmente produzissem mais, então tivemos que explicar a eles que a ideia era realizar a
ação corretiva adequada o mais cedo possível para que pudéssemos corrigir os problemas
antes que eles se tornassem grandes demais para serem abordados. Hoje todo mundo entende isso. A atmosfera no
trabalho também melhorou muito.
Para garantir que nosso pessoal estivesse conectado, ensinamos os princípios e as práticas lean para 15
participantes-chave do negócio – incluindo supervisores e gerentes de área – para que eles
pudessem compartilhar seus aprendizados com o restante da equipe. Mas a mudança que experimentamos não
teria sido possível sem uma mudança fundamental na cultura da liderança: hoje, a equipe de
liderança da Vilkun desafia as pessoas da linha de frente mais do que nunca, mas também fornece as
ferramentas necessárias para fazer seu trabalho da melhor maneira possível. Entendemos que as pessoas
vêm trabalhar não apenas para operar uma máquina ou completar uma tarefa, mas para participar da
melhoria de processos.
O lean nos ensinou a importância de incentivar as pessoas a fazer perguntas, compartilhar suas opiniões
e sempre destacar os problemas. Afinal, eles estão em melhor posição para sugerir maneiras de
melhorar o processo, porque eles o conhecem melhor. Quando nossa equipe viu que não tinha problema mudar as
coisas e que os líderes estavam lá para apoiá-los e responder as suas perguntas, eles
abraçaram a nova maneira de trabalhar e nunca mais olharam para trás.