ESTRATÉGIA E GESTÃO

“Respeito às pessoas” nas Olimpíadas deve inspirar reflexões às empresas

Flávio Augusto Picchi
“Respeito às pessoas” nas Olimpíadas deve inspirar reflexões às empresas
Mais do que uma competição esportiva, os Jogos sempre deixaram para a história um legado de lições relevantes sobre cidadania

Mais do que uma competição esportiva, os Jogos Olímpicos sempre deixaram para a história um legado de lições e reflexões relevantes sobre cidadania. Essa característica também se evidencia na edição deste ano. E como sempre acontece no paralelo entre esporte e gestão, pode trazer inspirações interessantes às empresas.

Primeiro pelo desafio diário de se fazer um evento desse porte em plena pandemia mundial. Isso certamente eleva a obrigação cotidiana de, a todo momento, se preocupar com a segurança para preservar a saúde de todos os envolvidos.

Trata-se de algo muito parecido com o ambiente que as companhias enfrentaram e continuam enfrentando: a necessidade constante de se repensar e reconfigurar os processos para garantir a saúde de funcionários, fornecedores, clientes etc. Enfim, de todas as pessoas envolvidas nas atividades das organizações.

Porém, para além do momento pandêmico, percebe-se ainda outras lições nessas Olimpíadas.

Uma delas é que, mesmo com todas as dificuldades, os jogos deste ano conservam ou mesmo reforçam aquele sentimento tão importante de competição ética, que por vezes se perde no meio organizacional em meio aos mercados cada vez mais difíceis.

Percebe-se nas disputas o respeito que os atletas têm um pelo outro, por mais que os embates sejam acirrados. Nota-se uma mentalidade de que competir pode e deve ser um processo saudável, produtivo e positivo, em que todos ganham, aprendendo e evoluindo coletivamente. E não um embate marcado pelo “vale tudo” em que se precisa aniquilar o outro.

Isso foi fortemente simbolizado pela mudança que o Comitê Olímpico Internacional (COI) fez no lema adotado pelo fundador dos jogos modernos, Pierre de Coubertin, desde o século 19. Neste ano, passou a ser em latim: “Citius, Altius, Fortius – Communis”. Ou seja, além do tradicional “Mais Rápido, Mais Alto, Mais Forte”, somou-se “Juntos”, o que faz toda a diferença.

O espírito olímpico de superação, marca permanente, também ficou ainda mais evidente no desempenho de atletas que enfrentaram inúmeras dificuldades na preparação em meio à pandemia, mas que conseguiram fazer suas melhores marcas e até mesmo quebraram recordes. Assim como tantas empresas que também se reinventaram para manter ou melhorar resultados em meio à adversidade extrema.

Outra lição é que estas são as Olimpíadas da valorização da diversidade e do combate aos preconceitos. Esta edição ampliou a participação feminina, adotou mais modalidades em equipes mistas e apresentou maior diversidade de gêneros não binários. Um aprendizado ainda fundamental para muitas empresas sobre a necessidade de se valorizar as pessoas pelos talentos, capacidades e esforços, independentemente de aspectos de gênero, cor, nacionalidade, opinião ou religião.

Merece também destaque o respeito ao meio ambiente presente em diversos aspectos, simbolizado, por exemplo, ao se produzir as medalhas com metais reciclados de aparelhos eletrônicos, um resíduo que também se torna cada vez mais um problema às companhias e a toda a sociedade.

No entanto, nada marcou mais estas Olimpíadas, quanto à necessidade de respeito às pessoas, do que a atitude de Simone Biles. Ao desistir de competir em provas onde era apontada como favorita, visando preservar a saúde mental, ela alertou o mundo de que atletas de alto desempenho não são super-heróis ou robôs, mas humanos.

Da mesma forma que as empresas precisam refletir sobre o crescente fenômeno da síndrome de burnout e focar mais em trabalho coletivo e melhoria de processos do que na mera pressão por resultados na busca por salvadores da pátria.

As competições ainda não acabaram, mas já são muitas as oportunidades de reflexões e aprendizados. E talvez algo que resume a essência dessas lições das Olimpíadas de Tóquio seja o respeito às pessoas que estes jogos refletem nesses diversos sentidos.

Isso é uma das bases da gestão lean, algo que deveria estar sempre em primeiro plano nas companhias, mas que por vezes fica um pouco esquecido. E que, por isso, precisa ser alvo de reflexões constantes – a necessidade de ter como princípio fundamental de gestão o respeito ao ser humano em todos os aspectos: de qualidade de vida, de segurança física e emocional, de respeito ambiental, de valorização da diversidade e de competição ética.

Publicado em 04/08/2021

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil