Já não é mais novidade que a capacidade das empresas de resolver problemas cotidianamente é o que fará cada vez mais a diferença entre as companhias de sucesso e as que tenderão a ficar para trás.
É o que suporta a tão desejada resiliência e adaptabilidade, que todos buscam nestes tempos, cada vez mais complexos e instáveis. Corrigir desvios assim que ocorrem se tornou algo estratégico.
O grande desafio, porém, vai além: “como” as empresas buscam resolver os problemas é o que vai determinar se elas seguirão um caminho evolutivo, em termos de melhoria de seu desempenho, ou se vão ficar se debatendo, com enorme dispêndio de energia, sem sair do lugar.
Muitas organizações, na ânsia de quererem solucionar tudo muito rapidamente, até pelas pressões do mercado, colocam em prática o que podemos chamar de “jump do solutions”.
É a prática das pessoas se apressarem em apontar o que acham que deveria ser feito sem entenderem claramente o problema que estão tentando resolver. Isso é fortemente reforçado na maioria dos ambientes corporativos, por líderes que valorizam a imagem de “heróis” que apagam incêndios todos os dias.
Nessa correria, não percebem que essa postura em geral não atinge a fonte dos problemas, e os focos de incêndio se proliferam. Adotar uma “solução” superficial ou inadequada, sem entender as causas dos problemas, é como jogar água num incêndio gerado por uma pane elétrica: além de não resolver, acaba agravando a situação.
Há décadas, as organizações discutem sobre o método científico de solução de problemas e a importância de se buscar as causas raízes ao se enfrentar um desvio. É raro uma companhia onde a maioria das pessoas já não tenha participado de treinamentos sobre esses importantes assuntos.
Por que, então, é ainda tão comum observarmos o “jump to solutions” nas empresas? Cada caso, é claro, precisa de sua análise específica, mas compartilho o que tenho observado.
Em muitas situações, a dificuldade começa na forma como o método científico de análise e solução de problemas é encarado. Se é visto meramente como um conjunto de ferramentas, a ser utilizado pelos operadores, ou se é parte da cultura de gestão da empresa.
Sem estímulo vindo de cima, algumas equipes podem até usar burocraticamente alguns formulários para abordar problemas específicos, mas o “jump to solutions” continua predominando para as decisões fundamentais, na alta direção e gerência média.
Para a filosofia lean, desenvolver capacidades de solução de problemas em todos os níveis é a essência da gestão. Isso precisa ser uma prática diária, feita de forma disciplinada, do presidente até todos os membros das equipes de
trabalho. A forma como desvios devem ser enfrentados, de forma sistemática, precisa ser propagada pelo exemplo, como um modelo mental repetido cotidianamente.
Quando um desvio ocorre e alguém traz uma proposta do que acredita ser uma “solução”, todos precisam estar acostumados a fazer perguntas. Por exemplo: que problema você está tentando resolver? Qual é o desvio em relação ao desempenho esperado? Como o problema se distribui? Você analisou todos os fatos e dados? Você foi ver o problema com seus próprios olhos e conversou com os envolvidos? Quais são as causas raízes? Como podemos comprovar essas hipóteses? Quais alternativas simples podemos imaginar para enfrentar essas causas?
Somente após a análise desencadeada por diálogos desse tipo é que as pessoas envolvidas poderão chegar a contramedidas efetivas que utilizem o mínimo de recursos e tragam ganhos de desempenho sustentáveis, de forma que os desvios não retornem.
O “jump to solutions” é uma verdadeira erva daninha nas empresas. Dá a falsa ilusão de que estamos “resolvendo” os problemas, quando, na verdade, uma enorme quantidade de energia e recursos está sendo despendida em ações aleatórias. Dessa forma, os problemas sempre voltam, pois as causas não foram entendidas e combatidas, ou surgem efeitos colaterais que não haviam sido identificados.
Criar uma verdadeira cultura de solução de problemas com método, incorporada aos modelos de gestão, é tarefa fundamental que deve ser priorizada pelas lideranças nos diversos níveis. Isso Exige mudanças de comportamentos e vai muito além da simples replicação de treinamentos sobre o assunto.