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Entenda os tipos de “turnaround” — e cuide para que não seja tarde demais

Flávio Augusto Picchi
Entenda os tipos de “turnaround” — e cuide para que não seja tarde demais
Em tempos de tantas mudanças sociais, econômicas e de ambientes cada vez mais complexos e incertos, é raro haver uma companhia que não esteja precisando de um turnaround; entenda

Uma boa gestão tem de levar a sério esses sinais e promover um turnaround que reverta definitivamente o desempenho declinante. Vou chamar isso de um “turnaround corretivo”. Ele corrige o rumo, antes que a situação fique muito mais grave (Foto: Grosescu Alberto / EyeEm via Getty Images)

A expressão “turnaround” ou “virada” foi por um bom tempo associada a grandes transformações inevitáveis em empresas que estavam com graves problemas financeiros e que conseguiram se reerguer.

Tratava-se do chamado “turnaround reativo”, feito sem escolha pela situação da companhia ser crítica, na qual ou ela mudava drasticamente ou não sobrevivia.

Hoje, esse termo adquiriu outras conotações mais amplas para além da salvação a todo custo de organizações à beira da insolvência. Turnarounds podem ser necessários em diferentes situações.

Por exemplo, em empresas que não estão, ainda, em situações financeiras comprometidas, mas que já emitem sinais de problemas. São companhias em que o desempenho começa a decair, problemas de qualidade se acumulam, produtos ficam obsoletos, entregas atrasam, insatisfações de cientes aumentam, o clima organizacional se deteriora, entre outras situações preocupantes. É um momento de grande perigo.

Muitos gestores relutam em reconhecer esses sinais e tentam debitar essas deficiências a fatores externos ou ocasionais. Tentam tapar o sol com a peneira. Acham que não precisam mudar quase nada e que as coisas vão retomar seu rumo. Porém, esses problemas podem ser “bombas relógio” que vão estourar quando poderá ser tarde demais para qualquer ação mais profunda.

Uma boa gestão tem de levar a sério esses sinais e promover um turnaround que reverta definitivamente o desempenho declinante. Vou chamar isso de um “turnaround corretivo”. Ele corrige o rumo, antes que a situação fique muito mais grave.

Existe, porém, um terceiro tipo de turnaround, esse muito mais interessante, que é o “turnaround proativo”.

É o caso de empresas que, mesmo saudáveis e com bom desempenho, fazem turnarounds para se reinventar. São companhias que mudam radicalmente seus modelos de negócio, processos, produtos e formas de gestão para se tornarem ainda melhores do que já são.

Assim, elas conquistam novos e mais elevados patamares. Passam à frente de competidores e garantem vantagem competitiva não só no presente, mas também para o futuro.

Os momentos e as formas de realizar esses três tipos de turnarounds dependem das lideranças das organizações, de suas capacidades de entender o contexto interno e externo e da visão que têm sobre a empresa e o seu futuro.

Porém, é a gestão que determinará o fracasso ou o sucesso das três formas de mudanças. E os conceitos lean são aplicáveis para realizar todas elas.

Nos turnarounds reativos, por exemplo, a aplicação dos conceitos e práticas lean para a eliminação de desperdícios é bem diferente do tradicional “cortar custos ou cabeças” e leva a recuperações sustentáveis e permanentes.

Já nos turnarounds corretivos, a gestão lean pode ajudar desde a identificação prematura dos sinais de deterioração, por exemplo, utilizando as práticas de gerenciamento diário que estimulam cotidianamente a exposição e resolução de problemas.

E nos turnarounds proativos, diversos conceitos lean também são fundamentais. Por exemplo, o foco em buscar formas inovadoras de agregar valor aos clientes, estabelecendo fluxos completos de entrega sem desperdícios, gerando ciclos de aprendizado.

Sendo assim, cabe a pergunta: em que situação sua empresa se encontra?

Nesses tempos de tantas mudanças sociais, econômicas e de ambientes cada vez mais complexos e incertos, é raro haver uma companhia que não esteja precisando de um turnaround.

Espero que no seu caso não seja necessário um turnaround reativo, mas se for esse o caso, cuide para que ele se realize de maneira que melhore a gestão, para tornar a organização mais preparada para o futuro.

Se sinais preocupantes já começam a aparecer, não deixe que eles se acumulem. Pense em ações que levem a organização a sair de um caminho descendente para outro ascendente, de forma sustentável.

Mas o melhor mesmo é se antecipar e aproveitar esses tempos de mudanças aceleradas e não perder as janelas de oportunidade para identificar possibilidades de um lean turnaround proativo. E, assim, transformar, de verdade, negócios, processos e formas de conexão com clientes, mudando a gestão como um todo.

Publicado em 07/10/2020

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil