GERAL

Para evoluir gestão é preciso que “você mude” antes de “mudar os outros”

Flávio Augusto Picchi
Para evoluir gestão é preciso que “você mude” antes de “mudar os outros”
Todo novo gestor tende a replicar os modelos de liderança que conheceu em sua carreira. O problema é que esses padrões predominantes do passado, muito baseados no comando e controle (e ainda hoje presentes), não funcionam mais

É comum vermos, nos ambientes corporativos, pessoas incomodadas com as atitudes “dos outros” – colegas de trabalho, outras áreas da empresa, fornecedores etc.

Identificam facilmente uma série de coisas que gostariam que “os outros” fizessem de forma diferente. Entretanto, poucos tentam perceber o que deveriam mudar em si mesmos, antes de exigir a mudança dos demais.

Na gestão, isso pode fazer toda a diferença. Muitos líderes, por exemplo, trabalham para mudar seus liderados, mas são minorias as lideranças que se esforçam para mudar a si próprias.

Todo novo gestor tende a replicar os modelos de liderança que conheceu em sua carreira. O problema é que esses padrões predominantes do passado, muito baseados no comando e controle (e ainda hoje presentes), não funcionam mais. Se é que um dia efetivamente funcionaram…

Já faz um tempo que os modelos de gestão apontam para formas mais participativas de liderança. São líderes que buscam estimular a contribuição mais integral de todos.

Por outro lado, os liderados também aspiram a uma maior compreensão do sentido de seus trabalhos e participação. E todos, sem exceção, são exigidos cada vez mais a terem muito mais colaboração, iniciativa, visão de negócio, criatividade, autodesenvolvimento etc.

Ou seja, em todos os níveis são exigidas competências que não eram consideradas tão essenciais no passado. Todos precisam mudar.

No sistema lean, para uma transformação real e sólida de uma companhia, mudar a si mesmo é tão ou mais importante do que tentar mudar o outro.

Isso porque a mentalidade enxuta tem como pré-requisitos mudanças por vezes profundas, de mentalidades, de comportamentos, de conceitos e de práticas que estão “cristalizadas” nas pessoas. Se essas mudanças não ocorrem dentro de cada um, a transformação de gestão fica comprometida e debilitada, e a organização, enfraquecida.

Nesse sistema, as pessoas são estimuladas a serem muito mais proativas. Elas são provocadas, no bom sentido do termo, a identificarem e resolverem problemas por iniciativas próprias em seus cotidianos de trabalho, todos os dias.

Para isso, elas precisam ver os problemas com os próprios olhos. Devem saber ouvir as pessoas e entender seus lados da história. Aprender a buscar o consenso entre os membros de suas equipes. Entender como fazer perguntas, um processo que, na maioria das vezes, é bem mais eficiente do que dar ordens.

De forma similar, precisam saber trabalhar em grupos tendo como prioridade a ação do time e não o trabalho do indivíduo. Devem participar, de forma adequada, de momentos hansei, que são encontros que estimulam a reflexão em equipe e, portanto, o autoconhecimento…

Esses e diversos outros conceitos e práticas lean buscam, no fundo, mudar mentalidades, crenças e práticas, digamos, tradicionais. E contribuem, se entendidas e assimiladas, para uma mudança interna real e verdadeira.

Isso, porém, só ocorre se os líderes tiverem comportamentos que sejam exemplares e que incentivem as atitudes desejadas, o que exige, também, que eles busquem a “automudança”.

Se você quer melhorar sua empresa, ou seja, os resultados da sua companhia, terá de estimular atitudes mais autônomas em suas equipes. Para isso, esteja preparado para mudar vários conceitos e práticas em seu estilo de liderança e na forma como você interage com seus times.

Só assim poderá motivá-los a resolverem os problemas, por si próprios, com método e colaboração, em vez de sempre buscarem, para tudo, as respostas “prontas dos chefes”.

Com certeza é um processo difícil, mas é a única forma de desenvolver pessoas e ambientes de trabalho mais produtivos. E conseguir resultados superiores

Publicado em 26/08/2020

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil