GERAL

Líder precisa exercitar empatia

Flávio Augusto Picchi
O gestor precisa ter a consciência de que é preciso estar onde os colaboradores e os clientes estão

A empatia pode ser entendida como a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias (Foto: Pexels) A empatia pode ser entendida como a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias (Foto: Pexels)

Um fenômeno que comumente ocorre com líderes de empresas com gestão ultrapassada é que quanto mais alta é a posição da liderança, mais correm o risco de ficarem, paradoxalmente, distantes de pessoas fundamentais para o negócio.

Seja pelo distanciamento físico, nas sedes corporativas, ou por se concentrarem muito em números, planilhas, relatórios etc., afastando-se do “mundo real”, os líderes diminuem, por exemplo, o contato cotidiano com seus colaboradores que produzem ou vendem os produtos ou serviços.

Ou, similarmente, quando as altas lideranças ficam tão “isoladas” nos escritórios e nas salas de reunião que, ainda mais paradoxalmente, distanciam-se também dos próprios clientes, a razão maior da organização.

Isso acaba gerando um efeito colateral às vezes imperceptível, mas que tem consequências ruins para qualquer empresa: a perda de “empatia”.

A empatia pode ser entendida como a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias. É um exercício de tentar entender as necessidades, os desejos, os pensamentos, às razões, os sentimentos etc. de outros.

Ao perder essa empatia, o líder acaba diminuindo a capacidade de perceber quais são os reais problemas que ocorrem na organização, assim como as oportunidades, estratégias e caminhos mais adequados para se seguir.

Dessa forma, uma série de distorções cotidianas de gestão podem facilmente ocorrer: visões distorcidas sobre os problemas; desatenção sobre as demandas, desejos e reclamações dos clientes; adoção de soluções que pouco resolvem as falhas e ainda criam outras; proliferação interna etc.

Sabemos que, por diversos motivos, as pessoas por vezes têm dificuldades em narrar suas experiências, seus pensamentos, seus desejos e sua necessidades, seja por medos de punição, dificuldades de comunicação ou por diversos outros motivos. Isso se intensifica ainda mais quando se usa demasiadamente a comunicação à distância ou por meio de documentos.

Assim, o líder precisa ter a consciência de que é preciso estar onde essas pessoas fundamentais – colaboradores e clientes – estão. Mais do que isso, adotar maneiras de tentar se colocar em seus lugares. Como os americanos dizem, “to be in someone’s shoes…”.

A gestão lean atua também nesse ponto. Ela tende a gerar essa empatia porque estimula líderes a irem ao gemba, ao local onde ocorre o trabalho, a produção e a geração de valor, para que vejam os processos produtivos com os próprios olhos, para que conversem com as pessoas e saibam como elas trabalham, quais resultados estão obtendo, as dificuldades que enfrentam…

De forma similar, também estimula o líder a procurar, de forma direta, o maior contato possível com clientes, buscando ir aos locais em que eles frequentam – nos pontos de venda, nos locais de consumo – para conversar, entender suas necessidades, como utilizam seus produtos e serviços, suas preocupações, desejos e reclamações.

Muitas empresas promovem, por exemplo, esse tipo de encontro entre altas lideranças e clientes. Porém muitas vezes de forma esporádica, rara, como se fosse um “turismo corporativo”, quando o ideal é que isso seja algo constante, cotidiano, parte das tarefas diárias de um líder.

E não basta apenas ir ao local, ver e conversar com colaboradores e clientes, mas com aquela típica “mente fechada” dos gestores tradicionais, com ideias preconcebidas e atitudes de quem “sabe tudo”.

É necessária uma mudança de mentalidade e, consequentemente, de atitude. Deve-se ir aos locais em que estão os subordinados e os clientes, esforçando-se para se colocar no lugar deles, sem preconceitos, tentando “sentir na pele” seus pensamentos e sentimentos.

Nestes tempos de uma sociedade que estimula o individualismo e a competição, desenvolver a empatia pelas pessoas é algo complexo em qualquer situação; no ambiente corporativo, isso se torna ainda mais desafiador.

Por isso, precisamos nos esforçar para desenvolver essa capacidade, até que se torne algo natural. Principalmente se você for um líder.

Publicado em 11/09/2019

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil