Jürgen Klopp e jogadores do Liverpool após virada histórica sobre o Barcelona (Foto: Visionhaus/Getty Images)
A virada surpreendente e até inesperada do Liverpool para cima do Barcelona na semana passada pode nos dar um ensinamento muito importante, também com relação à gestão de empresas.
No dia seguinte, tivemos outra virada surpreendente: do Tottenham sobre o Ajax, mas diversos comentaristas de futebol ainda destacavam um fator que foi fundamental para o feito do Liverpool no dia anterior: a postura do seu técnico, Jürgen Klopp. E dessa postura podemos tirar mais um aprendizado de gestão, dentre tantos outros que o futebol nos traz.
Após sofrer a derrota por 3 a 0 na primeira partida contra o adversário, muita gente dizia que o time inglês não ia conseguir virar o jogo, que o Barcelona já havia “liquidado a fatura”.
Pois bem. Não sei se você notou, mas em vez de o técnico Klopp ficar “olhando pra trás”, reclamando do que aconteceu, em vez de tentar arrumar justificativas e/ou desculpas sobre isso ou sobre aquilo, como reclamar da arbitragem, do cansaço dos jogadores, do calendário, da falta de dois de seus principais jogadores para o segundo jogo etc. – como, aliás, acontece com muita frequência entre os técnicos brasileiros –, Klopp adotou outra postura, bastante diferente.
Ele preferiu “olhar para a frente”. Como ficou claro, ele decidiu arregaçar as mangas, fazer o que estava ao seu alcance e focar a energia em melhorar o seu time, em analisar quais foram as falhas da equipe e trabalhar em cima dos erros que percebeu. E assim aconteceu o show que a gente viu.
Na gestão, no dia a dia das empresas, essa mudança de postura, de atitude, de visão de mundo, também pode fazer muita diferença.
Sabemos que é típico encontrarmos nas companhias pessoas que, por exemplo, têm aquela postura tradicional de tentar achar que o problema não é delas. Que ficam reclamando dos outros, pois é o outro que está sempre errado. Procuram sempre um “culpado” externo. Acham que o problema é do chefe, da matriz, dos fornecedores, do outro departamento ou até mesmo do cliente!
Enfim, o que não faltam, no universo corporativo, são as justificativas, as desculpas e os “outros” para se colocar a culpa, não é?
Outra postura bem diferente, no entanto, é focar em melhorar o próprio trabalho, naquilo que está ao seu alcance. Concentrar as energias em fazer as coisas de uma forma melhor. Experimentar novas práticas. Pesquisar as causas raízes. Ir atrás das soluções.
Foi como se posicionou o técnico do Liverpool. E o resultado apareceu.
É claro que muitas vezes os problemas envolvem fatores e agentes externos, mas isso não pode ser usado como um escudo, ou uma barreira mental, como se nada mais pudesse ser feito.
Trata-se de uma questão de atitude, e esse tipo comportamento é também resultado do modelo de gestão adotado na organização.
Em modelos mais ultrapassados, o que mais se vê é a disseminação de mentalidades do tipo “o problema não é meu”, “a culpa é do outro”, inclusive entre lideranças.
Na gestão lean, porém, há um outro tipo de postura. Antes de mais nada, no lean nunca procuramos culpados, sejam internos ou externos. Se um resultado não é o que esperamos, devemos procurar as causas, as origens dos problemas escondidas nos processos e na forma como as atividades são realizadas.
A primeira questão a ser feita é “o que está sob meu domínio e de minha equipe? Que outras pessoas, áreas etc. devemos reunir para analisarem as possíveis melhorias conosco? O que podemos fazer melhor?”.
Para os fatores externos, devemos analisar como podemos interagir de uma forma melhor com os diversos agentes, buscando ganhos comuns. Ou pelo menos como nos preparar melhor para enfrentarmos as condições que podem mudar e sobre as quais temos pouco controle.
Faz parte também desse modelo de gestão estimular a autonomia do colaborador. Desenvolver sua mentalidade para que ele se sinta responsável pelo que faz e busque cotidianamente melhorar o próprio trabalho. Independentemente dos “outros”.
No lean, dizemos que o “sem culpados”, que a liderança deve praticar, tem como contrapartida o “sem desculpas”, por parte dos colaboradores. Cada time tem que ser responsável pelo atingimento dos objetivos e pelo envolvimento de quem for preciso para isso.
O futebol nos traz grandes ensinamentos sobre trabalho em equipe e liderança. Precisamos aprender e disseminar isso pelas nossas organizações. Quando a gente não consegue o resultado esperado, não adianta muito olhar para trás ou mirar no outro. Não seja mais um chato que fica só reclamando.
Olhe para frente. Olhe para você mesmo. E no que você e seu time podem fazer para melhorar.