Atender a clientes cada vez mais exigentes não tem sido fácil para as empresas. Produtos mais customizados, entregas mais rápidas, custos cada vez mais espremidos e tantas outras demandas têm exigido mudanças na forma de produzir e entregar. Muitas companhias saem em desvantagem nessa batalha por deixarem de usar uma ideia que faz toda a diferença: o conceito de fluxo contínuo.
Isso acontece porque muitas vezes os esforços de melhoria estão focados em processos isolados. Fazer uma área ou equipamento funcionar no máximo de sua capacidade dá uma falsa ilusão de eficiência, num estilo de gestão tradicional.
A filosofia lean, também conhecida como mentalidade enxuta, propõe olharmos para os processos de uma forma totalmente diferente: acompanhe e otimize o fluxo de valor, ou seja, a sequência de atividades que entrega ao cliente o que ele deseja, quando ele deseja, seja um produto ou um serviço.
Ao fazermos isso, vamos perceber que esses fluxos, em geral, sofrem interrupções de várias naturezas e estão muito longe de serem contínuos.
Por exemplo, se seguirmos a produção em uma empresa de manufatura, desde a matéria-prima até o produto final, vamos ver que muitos processos ocorrem de maneira desconectada, com ritmos diversos, esperas, estoques acumulados entre si e tantos outros desperdícios.
Se acompanharmos um serviço, por exemplo um atendimento médico, também veremos fluxos descontínuos. Você se depara com diversas filas, físicas ou virtuais, para marcar uma consulta, realizá-la, se deslocar para fazer um exame em outra data, voltar etc.
Uma vez identificadas as interrupções no seu fluxo de valor atual, a filosofia lean adota a criação de fluxos contínuos como um princípio fundamental para a proposição de melhorias num estado futuro.
Como ideal, isso seria atender cada cliente encadeando as etapas que criam valor para seu pedido específico sem interrupção. Mesmo que seja difícil conseguir isso em sua totalidade, o quanto mais nos aproximarmos desse ideal melhor será nosso sistema, com enormes ganhos de produtividade, flexibilidade e rapidez de resposta.
Na manufatura, um exemplo de aplicação de fluxo contínuo seria eliminar a produção em departamentos especializados, com estoques entre si. Criar células onde todos os processos necessários para a confecção de determinada família de produtos ocorram lado a lado, uma peça por vez, com equipamentos e equipes que possuam a capacidade de entregar no ritmo demandado pelo cliente.
Em serviços ou processos administrativos, ao invés de grandes lotes de informação se movendo vagarosamente e aguardando vários dias entre departamentos, o fluxo contínuo pode ser obtido com equipes multidisciplinares que resolvam rapidamente pedido a pedido, de maneira completa, na sequência que chegam.
Se formos analisar bem, chegaremos à conclusão que o conceito de fluxo contínuo em si é bastante simples. Entregue um, faça um, mova um. Ou se aproxime ao máximo disso, com pequenos lotes. Mas é claro que, para sua concretização, existem diversas barreiras.
Muitas pessoas se lembram imediatamente de dificuldades técnicas ou físicas, como tempos de trocas entre modelos, que limitam a redução de lotes, trabalhos segmentados entre áreas especializadas etc. Claro que todos esses problemas são importantes e precisam ser transpostos.
Mas tendo apoiado muitas empresas na implementação do fluxo contínuo, posso afirmar que a maior barreira está no modelo mental que herdamos da forma tradicional de olhar para a produção, através de fluxos desconexos e otimizações pontuais. Se mudarmos esse pensamento básico, os empecilhos técnicos podem ser superados com relativa facilidade, aprendendo com tantas aplicações que já existem, bem como gerando novas ideias, adequadas a cada caso.
Tente analisar os fluxos de valor no seu trabalho: onde ocorrem paradas, esperas, estoques? Experimente desenvolver um fluxo contínuo, aprendendo e aplicando as técnicas lean que sejam necessárias. Os resultados com certeza motivarão uma mudança de mentalidade em todos envolvidos, iniciando uma nova forma de enxergar a melhoria de processos em sua empresa.