Estudo da Abimaq mostra que produto brasileiro custa 30% a mais do que importado (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Um estudo que acaba de sair pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) confirmou mais uma vez uma realidade que muita gente que atua no mundo corporativo já sabe há muito tempo: o produto brasileiro, fabricado pelas empresas no Brasil, é “caro” e, portanto, enfrenta maiores dificuldades para se destacar em meio à forte concorrência do mercado internacional.
Segundo a pesquisa que acaba de ser publicada na mídia, um produto fabricado no Brasil é 30% mais caro que o mesmo produto feito, por exemplo, nos EUA ou na Alemanha.
Algumas fortes razões para essa baixa competitividade também já são conhecidas: o chamado “custo Brasil”. São aqueles fatores que cotidianamente – e inevitavelmente – impactam as operações de qualquer companhia no país, gerando custos e mais custos que oneram a produção sem agregar valor algum aos clientes.
Por exemplo, a má gestão pública que pouco estimula e muito dificulta os negócios na conhecida burocracia brasileira. Os pesadíssimos impostos que impactam os custos e, no geral, não dão retorno à sociedade. A nossa logística precária, com estradas, portos e aeroportos que são, muitas vezes, verdadeiros pesadelos para quem produz...
São fatores penosos e que são “externos” às organizações. Ou seja, são barreiras que as empresas não conseguem se livrar. Mas é preciso lembrar que há um fator “interno” em muitas companhias que também contribui para esse atraso: a “gestão tradicional” que ainda persiste e que se soma negativamente ao “custo Brasil”.
A gestão lean já comprovou que todo processo produtivo, seja ele qual for, é recheado de atividades que não agregam valor ao produto final que é oferecido aos clientes. São os chamados “desperdícios” que, embora não agreguem valor algum a o que se está produzindo, representam custos que oneram inutilmente a produção, tornando a empresa menos competitiva.
O problema é que na maioria das vezes esses desperdícios ficam “invisíveis” aos olhares pouco atentos das organizações que insistem na visão tradicional de gestão. São aquelas empresas cujas lideranças, por exemplo, só pensam em “o quê” ou “em que quantidade” produzir e que se esquecem de que tão ou mais importante do que “produzir” é “como produzir”.
Trata-se de uma mentalidade bem diferente da gestão lean, em que todos são estimulados, cotidianamente, a olharem os processos, seus trabalhos diários, com olhar crítico. Para identificarem oportunidades de eliminação de desperdícios ou de fazer as atividades de forma melhor do que já se fez. Uma companhia que cultiva essa mentalidade elimina custos a todo momento.
Um exemplo muito evidente disso ocorre quando uma organização que começa a adotar o sistema lean coloca em prática uma “ferramenta” lean que chamamos de “Mapeamento do Fluxo de Valor”.
Trata-se de um “mapa” elaborado sobre determinado processo, que geralmente revela uma série de atividades que ocorrem, mas que são inúteis: retrabalhos, defeitos nos processos, desperdícios de tempo, de espaço etc.
Ao eliminar essas atividades, a empresa, na grande maioria das vezes, aumenta enormemente a produtividade e elimina custos em proporções enormes, chegando em alguns casos a mais de 50%, o que obviamente tenderá a tornar seu produto final mais competitivo.
Ou quando, noutro exemplo, as companhias fazem o que chamamos de “kaizens”, ações de melhorias imediatas em processos produtivos, o que rapidamente torna o trabalho mais ágil, mais econômico, mais agregador de valor...
E há diversas outras práticas e conceitos de mudança de gestão que, sem se necessitar de altos investimentos, “apenas” mudando a forma de se trabalhar, conseguem efetivamente eliminar desperdícios e, assim, mobilizar todos na busca de proporcionar maior agregação de valor e satisfação dos clientes, tornando o produto mais competitivo.
É realmente algo insustentável o nosso chamado “custo Brasil” (a burocracia pública, os altos e muitas vezes inúteis impostos, nossa logística precária...). E esperamos que os novos governantes incluam nas suas prioridades ações que, de fato, eliminem esses entraves que dificultam o crescimento das organizações.
Mas também precisamos ser honestos e reconhecer que devemos fazer de forma mais intensa a nossa “lição de casa”, para sermos mais competitivos. As empresas podem atacar com mais ênfase seus custos gerados pelos desperdícios internos, por processos produtivos ruins.
Somente somando os dois fatores (a redução do custo Brasil, o que passa pela eficiência do Estado, e a redução das ineficiências internas nas empresas, com uma gestão mais eficaz) caminharemos para um país mais competitivo no cenário internacional.