Estávamos no sentido contrário ao “propósito da mudança”: nossos processos eram cada vez piores, mais lentos e mais caros. Achávamos que sairíamos piores do que entramos no processo, que aquilo tudo era um tremendo desperdício de esforço, tempo e dinheiro. Surgiram dúvidas se realmente a acreditação valia o esforço. Teríamos muitos custos associados à burocracia criada e nenhum benefício econômico diretamente associado ao certificado: enxergávamos apenas custos crescentes sem necessariamente enxergarmos “mais qualidade”.

Para nossa sorte, o Google já estava lá e uma busca simples para “ desperdício” e “sistema de saúde” (“waste”, “healthcare”) levou ao relatório do IHI (Institute for Healthcare Improvement): “Going Lean in Healthcare”. Publicado dois anos antes (2005) e elaborado a partir de apresentações de um time de especialistas, incluindo o fundador do Lean Enterprise Institute (LEI) nos EUA, James Womack. A leitura me deixou aliviado. Tudo o que imaginávamos que poderia ser diferente parecia possível, sustentado pelas pessoas e através de uma mudança cultural, uma mudança de postura e perspectiva. Não era mais um problema só nosso, e havia sim uma maneira de tornar nosso sistema mais seguro, mais eficiente e mais barato. A ordem foi “vamos nos certificar”, acabar logo com isso e redesenhar tudo a partir dessa nova perspectiva, o pensamento lean ou pensamento “enxuto”. Era final de 2007.

Existem apenas quatro motivos para se modificar um processo: facilitar, melhorar, agilizar e baratear. E esses quatro objetivos estão em ordem de prioridade. Nossa jornada lean no Instituto de Oncologia do Vale (IOV) surgiu dessa necessidade, e foi olhando para esses propósitos que começamos nosso primeiro projeto utilizando o pensamento lean no IOV. Entre 2006 e 2007 estávamos em processo de acreditação pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), e éramos umas das poucas organizações de saúde no Brasil interessadas em certificados de qualidade buscando organizar seus processos e melhorar a qualidade da assistência.

Entendíamos que, apesar de confiantes com a qualidade dos nossos processos operacionais, eles eram bastante confusos e complexos, e o processo de controle da documentação havia se tornado nosso maior entrave. Como explicar para nossos consultores, que também não tinham muita experiência com certificados de qualidade na área da saúde, que tanta documentação não iria ajudar a melhorar um processo? Como garantir a qualidade? E ainda, quem disse que documento é garantia de qualidade? Mais tarde entendemos também que processos confusos e complexos não são seguros...

Estávamos em uma espécie de espiral ascendente onde um documento era criado para justificar a existência do anterior, e assim sucessivamente.

Release

Em Busca do Cuidado Perfeito é o resultado da experiência da aplicação da filosofia lean no IOV (Instituto de Oncologia do Vale), com a intenção de compartilhar sua experiência na gestão da saúde, visto que o Brasil carece de documentação nesse setor.