DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E PROCESSOS

Lean e moda sustentável se encontram na Eileen Fisher

Tess De Mesa, Johanne Read e Alice Lee

DESTAQUE - Projetar um trabalho bonito ajuda a projetar roupas bonitas. Aqui está a história de como a marca de roupas femininas Eileen Fisher encontrou uma maneira de apoiar sua estratégia de sustentabilidade ambiental.

A Eileen Fisher tem um forte foco na sustentabilidade desde sua fundação em 1984 em um loft em Tribeca, na cidade de Nova York. Enquanto marca de roupas femininas, nos esforçamos para fazer roupas atemporais - nossos produtos são conhecidos por sua simplicidade - e duráveis.

Nossa estratégia é delineada em nossos compromissos com a Vision 2020, que incluem utilizar apenas o uso de algodão orgânico e linho, que são neutros em carbono (na verdade, são positivos em carbono), e atingir um milhão de peças feitas com material reciclado até o final desta década. Na verdade, nossa visão do futuro tem tudo a ver com a eliminação de desperdícios, que aparecem de muitas formas: consumo de energia, produtos que terminam em aterros sanitários, uso desnecessário de recursos e matérias-primas e assim por diante.

Com nosso compromisso com a eliminação de desperdícios, talvez não seja surpreendente que começamos a estudar o pensamento lean como forma de agilizar nossos processos e apoiar nossa estratégia ambiental e empresarial.

Mas vamos passo a passo.

OS CLIENTES GOSTAM DE ROUPAS RECICLADAS

Cerca de sete anos atrás, abrimos uma loja perto de nossos escritórios em Irvington, Nova York. Demos o nome de Loja de Laboratório, pois queríamos que fosse um campo de testes para novas ideias. Uma dessas ideias era vender roupas Eileen Fisher usadas. Testamos, e os clientes adoraram - refletindo a tendência crescente da moda vintage e provando que nossas roupas não saem de moda.

Com base no sucesso desse primeiro experimento, a empresa lançou um programa de reciclagem, aberto tanto para funcionários como para clientes - nós o chamamos de Green Eileen. Fizemos uma grande campanha publicitária dizendo aos clientes que "gostaríamos de nossa roupas de volta, muito obrigado", convidando-os a devolver roupas Eileen Fisher levemente usadas por um crédito de US$ 5 e para apoiar uma boa causa - os lucros de nosso programa de revenda são doados para apoiar mulheres, meninas e o meio ambiente. Isso também foi um grande sucesso, e, ao longo do tempo, cobrimos três ou quatro armazéns com roupas usadas que as pessoas haviam devolvido.

Rapidamente descobrimos que só podíamos vender cerca de metade das roupas que recebemos, porque mesmo depois de lavar, passar e pendurar, muitas ainda tinham manchas ou rasgos que precisavam ser reparados. Com o compromisso de não enviar roupas Eileen Fisher para aterros sanitários, percebemos que precisávamos encontrar uma maneira de ampliar e gerenciar esse processo cada vez mais complexo. Nosso programa de devolução agora engloba iniciativas de renovação e reutilização e é gerenciado por um departamento inteiro da empresa. Estamos crescendo nosso negócio de revenda, vendendo as roupas que estão boas para uma nova casa e doando os lucros dessas vendas às causas que apoiamos. As roupas restantes, que precisam de um pouco de cuidado extra, estamos renovando, reparando ou tingindo. As roupas que precisam de muita atenção são usadas como matérias-primas para projetos totalmente novos. Nossas coleções Remade são projetos icônicos Eileen Fisher, feitas de roupas Eileen Fisher reutilizadas. Até guardamos todas as sobras e as roupas que ainda não sabemos como refazer, porque um dia planejamos regenerar esses materiais em novos fios e tecidos, que serão usados para fazer novas roupas.

Como parte do nosso compromisso com um modelo de negócios circular (e de manter nossas roupas fora dos aterros), abrimos uma pequena fábrica no Edifício Trent, em Irvington, NY, onde nosso centro de reciclagem já estava alojado. Nessa fábrica, apoiamos nossa iniciativa de reciclagem remanufaturando as peças de vestuário que julgamos imperfeitas para revender e transformando-as em nossa coleção Remade. Queremos que esse espaço (incluindo nosso centro de reciclagem, o estúdio de design Remade e a fábrica) demonstre o que é uma "economia circular" sem desperdícios na prática (essa iniciativa circular e sua história serão exibidas neste outono durante uma série de propagandas especiais da Eileen Fisher hospedadas pela Nordstroms).

E O LEAN?

Esta história é um exemplo perfeito de como o pensamento lean pode apoiar os objetivos de sustentabilidade ambiental de uma empresa.

Na Eileen Fisher, fizemos nossos primeiros passos lean em setembro do ano passado, quando Alice Lee e Jeff Smith, do Lean Enterprise Institute, foram convidados a se juntar a nós por alguns dias enquanto tentávamos descobrir como estruturar o trabalho que estávamos expandindo no Edifício Trent, que ainda estávamos renovando (tínhamos visto o potencial do pensamento lean durante uma visita à Legal Sea Foods, um dos parceiros de coaprendizagem do LEI). Quando começamos nosso trabalho juntos, parecia que estávamos falando duas línguas diferentes. Na Eileen Fisher, o "desperdício" geralmente é usado em termos ambientais, enquanto que o pessoal do lean geralmente se refere ao desperdício em termos de esforço humano, espaço, capital e tempo... mas descobrimos rapidamente que estávamos realmente falando sobre as mesmas coisas e que nossas visões alinhavam-se perfeitamente. Ambos queríamos criar mais valor e menos desperdício.

Nossa prioridade em nosso novo espaço no Edifício Trent foi manter a flexibilidade para se adaptar a nossas necessidades em constante mudança. Não demorou muito para vermos quão complexo era o design do fluxo de nossas áreas de operação, porque não podemos planejar o tipo de (ou quantas) roupas doadas virão até nós até vermos em uma base semanal. Nossos processos precisariam levar em consideração essa imprevisibilidade e variabilidade. Cynthia Power, gerente facilitadora de nosso programa de retirada e reutilização, diz muito bem: "a fim de realizar uma transição para um modelo de economia circular, teremos que mudar os processos muitas vezes. Isso é um fato. O pensamento lean nos dá uma maneira de fazer isso através da experimentação".

Mas essa é a visão maior. O objetivo no curto prazo era que trabalhássemos com o LEI para otimizar o fluxo e o layout de nossas novas operações no Edifício Trent a fim de reduzir o tempo de entrega desde o conceito do produto até a venda. Quanto mais roupas doadas podemos processar, maior será nossa contribuição para nossos objetivos de sustentabilidade.

Nosso trabalho de Remade é bastante complexo e envolve várias etapas: precisamos classificar as peças (por tamanho, cor, fabricação etc.), desconstrui-las, passá-las, colocá-las para cortar, ajustar os padrões para que elas possam ser cortadas e encontrar a maneira mais eficiente e eficaz de costurá-las na linha de produção.

Uma das primeiras discussões que tivemos com o LEI era se o fornecedor do serviço de lavanderia deveria vir uma vez por semana ou com mais frequência. O recolhimento e retirada uma vez por semana causava dores de cabeça, como pilhas de roupa (até 2.500 peças) esperando toda a semana para serem limpas e lotes de roupas limpas chegando ao mesmo tempo em que as sujas eram retiradas. Estávamos experimentando picos desnecessários de trabalho e gargalos em um espaço que se tornava abarrotado toda vez que chegava uma entrega. Em seguida, seguimos a recomendação de Alice para abandonar o lote e fila e abraçar o fluxo de uma só peça, passando a fazer duas retiradas por semana em lotes menores. Isso facilitou nossa vida.

Durante nossa semana com o LEI, também mapeamos todas as etapas do processo para uma única peça de vestuário (do retorno do cliente até a produção da Remade) usando um mapa do fluxo de valor, o que nos ajudou a entender nosso trabalho de forma diferente. Depois de caminhar fisicamente no espaço e fazer o trabalho visual, percebemos que havia diferentes maneiras pelas quais as operações maiores do Edifício Trent poderiam fluir no futuro: em um mapa, a prioridade foi a loja e a revenda das roupas, enquanto outra versão focava no trabalho de criar itens da Remade.

Decidimos começar com a priorização da nova fábrica e do produto de vestuário Remade. Mas reconfigurar o espaço para a produção de itens da Remade não seria tão fácil sem entender todos os elementos de nosso trabalho e desenvolver flexibilidade suficiente em nosso processo e layout especial para reorganizar as coisas a fim de atender a nossas necessidades em constante mudança. Durante nosso tempo juntos, quando nosso foco ainda estava em usar o Edifício Trent para produzir calças TK (uma favorita dos clientes) para nossa linha principal, Alice e Jeff nos ensinaram a usar um gráfico de balanço do operador para redistribuir e equilibrar o trabalho através da célula de costura. Foi nesse momento também que tomamos a decisão crítica de colocar as máquinas de costura sobre rodas, o que nos permitiu mudar a sequência do trabalho de acordo com a necessidade (algo que prevemos que aconteceria com frequência quando chegamos à produção da Remade). Agora, podemos implementar o fluxo de uma só peça em qualquer momento, sem importar o que precisamos produzir.

Observar o trabalho revelou cada vez mais oportunidades de redesenhar o processo para obter um maior fluxo, o que, por sua vez, levou a uma série de pequenos kaizens: por exemplo, colocando a linha preta, frequentemente usada, na prateleira superior ao lado de cada estação de trabalho ou amarrando uma tesoura para cada máquina de costura com um pedaço de elástico para evitar a necessidade de subir e descer ou de procurar tesouras mal colocadas.

Ficou claro como pequenos ajustes em uma área têm um efeito positivo na linha, reduzindo o esforço que outros membros da equipe devem fazer e, portanto, o tempo total necessário para fazer uma peça de vestuário. O pensamento lean nos ensinou a trabalhar juntos como uma unidade, onde produzimos uma excelente peça completa atrás da outra. Isso ajudou as pessoas a alinharem-se em direção a um objetivo comum, mostrando como o trabalho de cada uma delas afeta o resto da operação. Quando lançamos a linha de produção na fábrica, ficamos maravilhados ao ver nossos alfaiates e cortadores de padrões colaborando mais: eles começaram a ajudar os colegas, a reconhecer sua contribuição e a realmente trabalhar como uma única equipe.

Uma vez que você experimenta o lean, você não consegue parar de pensar sobre como melhorar o trabalho. Essa maneira de pensar rapidamente começa a permear tudo o que você faz. Ela desencadeia sua criatividade e desenvolve sua capacidade de resolver problemas.

REMOVENDO A LACUNA DE SUSTENTABILIDADE

Em uma conversa recente no Smithsonian Design Museum, nossa fundadora, Eileen, disse: "pensamos em nós mesmos como uma economia circular e assumimos a responsabilidade por todo o ciclo de vida de nossos produtos - das sementes que cultivam nosso algodão até o fim do ciclo de um vestuário. Dizemos que cultivamos roupas, crescemos pessoas e desenvolvemos negócios para sempre. "Isso parece bastante lean para nós, e temos certeza que a metodologia continuará a apoiar nossa visão para o futuro".

Para impulsionar a moda sustentável para frente, no entanto, precisamos encontrar formas de construir, manter, documentar e comunicar processos sustentáveis - dos quais o trabalho que fizemos no Edifício Trent, em nosso centro de reciclagem e nossa fábrica, é um exemplo perfeito - tanto dentro Eileen Fisher quanto em outros lugares. O lean parece ser uma maneira de nos ajudar a atingir nossos ambiciosos objetivos de sustentabilidade.

Como em muitas organizações, o pessoal da Eileen Fisher se preocupa profundamente com o trabalho que faz. Para nós, um dia satisfatório envolve a definição de objetivos ambiciosos com os membros da equipe, aprendendo o que é possível para nossa indústria (que realmente necessita de um novo projeto) e descobrindo maneiras de melhorar. Estamos empenhados em avançar para um futuro mais sustentável, onde tudo o que façamos seja usado o maior tempo possível e eventualmente reciclado e refeito. Estamos modelando nosso trabalho em tempo real para que outras empresas possam embarcar e encontrar formas de tornar seu próprio trabalho lean e circular. No final do dia, isso é tão elegante quanto a roupa mais linda que você possa imaginar.

Publicado em 06/10/2017

Autores

Tess De Mesa
Técnica/Controladora de Qualidade na Eileen Fisher
Johanne Read
Gerente de Desenvolvimento de Produto na Eileen Fisher
Alice Lee
Diretora Executiva do Lean Enterprise Institute, Estados Unidos
Planet Lean - The Lean Global Networdk Journal