CULTURA E LIDERANÇA

Conversas difíceis no trabalho não devem ser evitadas

Flávio Battaglia
Conversas difíceis no trabalho não devem ser evitadas
A maioria de nós tende a fugir de situações embaraçosas; mas, no mundo dos negócios, evitar conversas difíceis pode ser o caminho para o fracasso

Evitar uma conversa difícil pode parecer uma solução tentadora para evitar desconfortos imediatos, mas geralmente isso pode levar a problemas mais sérios em longo prazo.

Trata-se de um comportamento humano facilmente explicável. A maioria de nós tende a fugir de situações embaraçosas por várias razões psicológicas e sociais. Temos medo de um potencial conflito, o que gera insegurança e vulnerabilidade.

No mundo dos negócios, evitar conversas difíceis pode ser o caminho para a bancarrota. Decisões equivocadas podem prosperar, fatos relevantes podem ser “engavetados”, e as pessoas podem continuar se sentindo desconfortáveis com determinadas situações cotidianas.

Colocar assuntos delicados sobre a mesa exige enfrentarmos o receio de que expressar um ponto de vista possa levar ao julgamento ou rejeição. O medo de ser criticado ou mal interpretado pode fazer com que as pessoas evitem a conversa.

Além disso, precisamos desenvolver nossas habilidades de comunicação. Algumas pessoas podem não se sentir “equipadas” para lidar com conversas difíceis. A falta de assertividade e empatia podem tornar o desafio ainda mais árduo.

Portanto, uma das principais funções da gestão é exatamente criar o ambiente organizacional necessário para que as conversas difíceis passem a ser reconhecidas como fundamentais para a sobrevivência do negócio. E para que sejam conduzidas de maneira profunda e ordenada.

Nesse sentido, procure sempre definir os termos-chave discutidos na conversa difícil... mesmo que isso seja desconfortável.

Por exemplo, o que "suficiente" significa para você? Como podemos definir em termos objetivos? Se for sobre o seu desempenho no trabalho, como seu chefe define "produtividade"? Muitas vezes, nossos conflitos são alimentados por ruídos como esses, mais do que qualquer outra coisa.

Outra prática positiva é substituirmos o julgamento pela curiosidade legítima. A curiosidade pode transformar uma discussão potencialmente clorosa em uma conversa agradável. Ao invés de apressar-se para defender seus argumentos, peça mais esclarecimentos. Substitua as refutações por: "Eu quero entender melhor. Você pode explicar isso um pouco mais?"

Permita também os espaços para o silêncio ao longo da interação. Preservar o silêncio para permitir que as ideias sejam absorvidas é melhor do que falar apenas por falar. Isso também dá à outra pessoa a oportunidade de terminar completamente seu raciocínio. Permita o silêncio mesmo que isso seja um pouco desagradável naquele momento.

Em determinadas culturas e contextos sociais, a aversão a confrontos diretos é mais comum, e a abordagem indireta é mais recomendada. O importante é sermos capazes de fazer essa leitura previamente para adequarmos o “tom” das nossas conversas difíceis. Assim, aumentamos as chances de sucesso.

Evitar conversas difíceis garante conforto. Encará-las convida ao crescimento. O que você prefere?

Publicado em 28/08/2024

Autor

Flávio Battaglia
Presidente do Lean Institute Brasil