GERAL

Gestão é "chave" para aumentar trabalho colaborativo nas empresas

Flávio Augusto Picchi
Gestão é "chave" para aumentar trabalho colaborativo nas empresas
Sistema lean nos traz boas ideias, pois é um modelo de gestão essencialmente colaborativo

Já foi o tempo em que o mundo das empresas valorizava e incentivava o individualismo, ou seja, os “lobos solitários” que tudo sabiam (ou diziam saber) e tudo resolviam (ou diziam resolver).

Mais recentemente, embora essa velha cultura ainda, infelizmente, persista em muitas companhias, boa parte das organizações mais atentas já percebeu que cultivar o trabalho colaborativo, ou seja, aquele baseado na ajuda mútua entre pessoas, nos times, entre departamentos etc., é muito mais produtivo e sustentável.

Por exemplo, uma das palavras mais escutadas no recente Web Summit 2022, um dos mais renomados eventos de tecnologia do mundo, foi “colaboração”.

O desafio é como fazer isso, pois, como já dissemos, a cultura do individualismo ainda é grande dentro das empresas.

Uma das formas mais sólidas de se evoluir nessa questão é estruturar uma gestão que tenha como essência a colaboração – o que significa, na maior parte das vezes, mudar a gestão tradicional, geralmente uma estimuladora de individualismos.

Nesse sentido, o sistema lean nos traz boas ideias, pois é um modelo de gestão essencialmente colaborativo. Há nele uma série de conceitos e práticas que promovem isso o tempo todo.

Por exemplo, o Mapeamento do Fluxo de Valor, um método que, em resumo, elabora, como o próprio nome diz, um “mapa” de todas as etapas envolvidas num processo ou numa série de trabalhos, mostrando, em detalhes, todos os fluxos de materiais ou de informações, de uma ponta a outra – por exemplo, desde o pedido até a entrega ao cliente.

Quando se faz isso da maneira correta, com participação de profissionais das diversas áreas envolvidas, todos conseguem ver, claramente, as dificuldades dos demais e como isso afeta as entregas para os clientes e os objetivos da empresa. Com isso, um grande espírito de colaboração é criado, discutindo na prática, com as diferentes visões, os problemas reais e como resolvê-los.

Outro mecanismo do sistema lean que promove a colaboração é estruturar o trabalho em um fluxo contínuo por meio de “células de trabalho”, que é quando as etapas do processamento de um determinado item ocorrem imediatamente, umas após as outras, num fluxo contínuo. Isso une, de forma muito próxima e aparente, os trabalhos de todas as pessoas e especialidades envolvidas naquele processo, quebrando os tradicionais silos departamentais.

Para que a “célula” em questão consiga realmente operar em fluxo contínuo, na qualidade e ritmo necessários, uma colaboração enorme entre pessoas é promovida e mesmo exigida, porque a base do sucesso nessa forma de trabalho é os indivíduos trabalhando juntos.

É sempre bom lembrar que esses dois exemplos – o Mapeamento do Fluxo de Valor e o Fluxo Contínuo em Células, dentre tantos outros que são bases da gestão lean – têm a capacidade de gerar esses resultados tanto em espaços de “produção”, nas fábricas, mas também nos escritórios, na logística, no supply chain, nos serviços… Ou seja, em qualquer tipo de setor ou trabalho.

São mecanismos que se baseiam em pessoas se associando e atuando, juntas, num mesmo ritmo, revelando e resolvendo problemas umas ao lado das outras, jamais de maneira isolada ou fechada em seus respectivos departamentos ou nichos.

Em meio a tudo isso, há um outro desafio: a questão das “recompensas”.

Hoje é comum vermos empresas vivenciando a transformação digital que investem fortemente em áreas de tecnologia integradas ao negócio, trabalhando em squads, que reúnem profissionais de conhecimentos, experiências e setores muito diferentes. Incorporam, através das metodologias ágeis, conceitos que vieram do lean, como as células que citamos.

No entanto, isso só funcionará de forma plena se houver uma mudança nos processos de avaliação e recompensa, que ainda são focados nos indivíduos e nas entregas avaliadas por critérios departamentais. Diferentemente disso, é preciso direcionar os estímulos como um resultado adquirido pelo grupo, pelos times, frutos do trabalho colaborativo. Aí, sim, haverá realmente um incentivo forte à colaboração.

Todo esse esforço para reforçar que o trabalho em conjunto é importante, porque estamos falando aqui de algo que já é presente e que veio para ficar. A gestão precisa estar à frente desse processo.

Publicado em 07/12/2022

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil