ESTRATÉGIA E GESTÃO

Cerimônia do Oscar refletiu mudanças e tendências de gestão

Flávio Augusto Picchi
Cerimônia do Oscar refletiu mudanças e tendências de gestão
Vimos na premiação elementos que refletem transformações e tendências que também estão ocorrendo na gestão das empresas

Milhões de pessoas assistiram no fim de semana à cerimônia do Oscar. Consequência da pandemia, neste ano bastante atípico, o evento foi marcado por diversas mudanças. Como a vida imita a arte, e a arte imita a vida, vimos elementos que refletem transformações e tendências que também estão ocorrendo na gestão das empresas. E que vieram para ficar.

A começar pelo formato, que não poderia ser presencial, com centenas de pessoas aglomeradas. Os organizadores optaram por uma cerimônia semipresencial, onde um número restrito de participantes se reuniu em Los Angeles, seguindo os protocolos, e os indicados de outros países participaram à distância, na tradicional tela dividida em cinco candidatos. Outra mudança, as apresentações das indicações a melhor canção foram gravadas previamente e não ao vivo, como era tradição, combinando atividades “online” e “offline”.

Claro que o calor de uma cerimônia totalmente ao vivo é diferente, assim como é indiscutível que sentimos falta das interações presenciais nas companhias.

Porém, mesmo quando não tivermos mais barreiras sanitárias (esperamos que em breve), as organizações perceberão mais claramente algumas vantagens que o formato à distância traz, racionalizando deslocamentos e possibilitando maiores interações de equipes em diferentes localidades. Eu me junto àqueles que acreditam que fórmulas híbridas e flexíveis, atendendo a diferentes situações, trarão vantagens que ainda não foram imaginadas.

Chamou também atenção no Oscar deste ano a realização da cerimônia num local menor e mais simples. Da mesma forma, lideranças de diversas empresas têm se questionado: num cenário futuro, que permanentemente combine parte presencial e a continuidade de um uso ainda intenso de home office, continuaremos a precisar de sedes tão grandes, complexas e custosas?

Outro aspecto marcou esta edição: em função da pandemia, que fechou cinemas por quase o ano todo, pela primeira vez foi aceita a candidatura de filmes que foram exibidos somente nas plataformas de streaming. Isso foi uma verdadeira quebra de paradigma, que talvez seja mantida daqui para a frente, mesmo com a volta do funcionamento das salas de exibição.

Da mesma forma, inúmeros paradigmas foram quebrados na sociedade e nas companhias. Por exemplo, em processos que antes eram admitidos somente com atividades presenciais e formulários assinados em papel e que passaram a formas totalmente digitais. Muitas dessas mudanças já eram esperadas, mas foram aceleradas e ampliadas e não voltarão aos seus formatos anteriores.

A premiação deste ano marcou também mais um avanço numa tendência que já vinha de edições anteriores: a maior diversidade, com crescente presença de negros, asiáticos, de países que nunca tinham sido indicados e de mais filmes com temas como racismo, desigualdade e abusos sexuais, como Dois estranhos, Judas e o messias negro e Bela vingança. Para citar somente um fato relevante, Chloe Zhao é a primeira mulher não-branca e a segunda mulher a ganhar o prêmio de melhor diretora.

Da mesma forma, nas organizações continua evoluindo a atenção e as ações referentes à diversidade e à responsabilidade social, existindo ainda, como na sociedade na qual se inserem, muito a ser feito.

Diversos comentaristas apontaram que neste ano a premiação foi mais intimista, pessoal e humana. Uma atenção cada vez maior nos aspectos relacionados às pessoas também vem ocorrendo no mundo da gestão. Podemos dizer que na sociedade, de maneira geral, esses períodos de isolamento deixaram mais evidente esse aspecto: como a conexão entre as pessoas é a coisa mais importante em nossas vidas pessoais e profissionais.

Para que essa conexão ocorra, uma das coisas mais difíceis é a capacidade de enxergar situações a partir do ponto de vista do outro, o que vai muito além da simples empatia. Não é à toa que causou grande impacto a forma inquietante em que entramos na mente do personagem do filme Meu pai, ganhador de melhor roteiro adaptado e melhor ator, com Anthony Hopkins.

A pandemia da covid-19 tem sido uma enorme tragédia humana, com milhões de mortos no mundo todo, com consequências profundas em diversos aspectos da sociedade. Estamos passando por ela com muitas sequelas, mas também tendo aprendizados.

Em termos de gestão, estamos todos ainda nos adaptando, mas algo é certo: vamos perder em alguns aspectos, em relação a o que tínhamos antes, mas vamos ganhar em outros. O importante é tentarmos, na medida do possível, não focar no que vamos inevitavelmente perder, mas, sim, buscar formas para que haja saldos positivos.

Voltando ao paralelo com o Oscar, posso afirmar que, como expectador, achei a cerimônia deste ano bem melhor do que as anteriores.

Da mesma forma, nas empresas, se formos criativos, explorando e experimentando diferentes enfoques e possibilidades, podemos tirar importantes aprendizados para concebermos novas formas de trabalho que tornem, num futuro próximo, os ambientes corporativos cada vez mais estimulantes, motivadores, colaborativos, humanizados e produtivos.

Publicado em 28/04/2021

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil