DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E PROCESSOS

Gerar múltiplas alternativas não é necessariamente um desperdício

Katrina Appell
Gerar múltiplas alternativas não é necessariamente um desperdício
Certa vez me perguntaram: “Como o design baseado em conjuntos de alternativas é lean? Gerar muitas alternativas não gera desperdício, algo que o lean busca eliminar?”.

Essa é uma questão lógica e razoável. É sempre importante entender o propósito de um método para que você possa imaginar se ele resolverá seu(s) problema(s). Fazer qualquer coisa sem entender o propósito é desperdício. Como o design baseado em conjuntos de alternativas geralmente requer um investimento para alocar os recursos no início do desenvolvimento, seu propósito pode ser ainda mais questionado. Na verdade, isso é um benefício disfarçado, pois garante que entendamos melhor o propósito. É mais um método lean contraintuitivo cuja resposta depende da sua perspectiva.

Pode haver muitos desperdícios associados ou evitados por meio do aprendizado gerado com as múltiplas alternativas. Com apenas um produto dentro do departamento de engenharia, seria razoável pensar que, se explorarmos múltiplas alternativas, todas, com exceção daquela que você selecionar, serão desperdícios. Isso é o mesmo que otimizar o trabalho verticalmente, dentro de um processo ou função, em vez de horizontalmente, ao longo do fluxo de valor.

A questão original vem de uma perspectiva horizontal: se você apenas selecionar a melhor alternativa antes de começar, todas as outras alternativas serão desperdícios. Entretanto, esses dois pontos de vista são ilusórios e conflitam diretamente com os princípios centrais do LPPD. Eles implicam que o designer deve saber automaticamente qual alternativa é a melhor e ignoram as mudanças caras e demoradas de design iterativas que quase sempre ocorrem quando um único design é selecionado antecipadamente, provavelmente resultando em um design pior do que o esperado e com menos valor para o cliente. Todos esses são desperdícios que afetam negativamente o valor pela perspectiva do cliente.

Contudo, ao mesmo tempo, projetar múltiplas alternativas realmente gerará desperdício se você não estiver atento ao que está aprendendo e tentando criar. O valor é criado no desenvolvimento por meio de duas coisas:

Para criar um fluxo rentável de valor, você deve maximizar o valor do produto pela perspectiva do cliente e também a sua capacidade de produzi-lo. Explorar múltiplas alternativas com um processo rápido de aprendizagem permite um tempo de entrada no mercado mais rápido e mais valor para o cliente, mas isso só acontece se você avaliar as alternativas a partir das perspectivas do cliente e do sistema de manufatura. Se você está avaliando alternativas de diferentes perspectivas que o cliente não valoriza, você pode simplesmente estar gerando mais desperdício.

Além disso, há outro valor criado no desenvolvimento – o conhecimento utilizável. Enquanto múltiplas alternativas são exploradas para otimizar o produto e o sistema de manufatura, o que acontece com o conhecimento criado enquanto se aprende sobre os projetos alternativos? Se sua perspectiva é apenas este produto e esse conhecimento é descartado, não é um desperdício.

Entretanto, se você está olhando para um sistema de desenvolvimento com outros produtos atuais e futuros, o conhecimento descartado pode ser reutilizado. Você pode desenvolver conhecimento que será um desperdício se for improvável que seja reutilizado em programas futuros. Em contrapartida, se você capturar o conhecimento em um formato facilmente acessível, como em curvas de trade-off, você pode aproveitar esse conhecimento em projetos futuros para criar mais valor para o cliente.

As opiniões expressas neste artigo não necessariamente representam as opiniões ou políticas do Lean Enterprise Institute ou do Lean Institute Brasil.

Publicado em 03/02/2021

Autor

Katrina Appell
Coach Lean na Lean Enterprise Institute.
Planet Lean - The Lean Global Networdk Journal